quinta-feira, 23 de agosto de 2012

VIII - PERÍODO DE ENCONTROS



Foi um longo período de encontros. Eu não nasci do primeiro que tiveram. Eles ficaram bastante tempo na Espanha. Caso não me engane a mim mesmo, permaneceram umas duas a quatro primaveras. Não me lembro, não posso averiguar-me do que aconteceu nessa época.
Hoje, data de tua vida, leitor, explico a ti o que não entendia, enquanto vivo, sobre aquilo que minha mãe me tornou inteligível do amor, da vida e da morte.
Dizia-me ela que desfechamos a união, continuação dos corpos, após nascermos e desligarmo-nos do corpo materno. Essa sucessão reacontece quando o corpo morre, pois volta a fazer parte de um todo: da terra e do cosmo. Os ocidentais não percebem a experiência positiva da morte. Somente na morte do próximo é que veem a continuidade com o Universo. Possuem um fascínio, uma sedução e terror pelo corpo morto. Sempre que há um, não querem olhar, porém acabam a olhar. Para eles é o fim de tudo, por isso temem a morte e a quem ela abrigou. A vida acaba, mas, para povos como o dela, a união cósmica continua. E é por isto que festejam a morte de um ente querido, mesmo que a perda os entristeça no início. A morte uterina que dá o novo ser à vida na Terra é o fim para o início da vida. Não temem a visita em espírito ou em sonho; saúdam.
O amor na sua plenitude do ato sexual também faz parte da descontinuação do ser como a morte. Porém, no humano jogo erótico, isso acontece por alguns eternizantes segundos no orgasmo, que transforma os corpos em ilimitados, perdendo-se a noção do eu, da outra, do que é meu ou do que é dela; os dois são apenas um. É a fusão entre seres. Para ela, é a volta ao natural. E eles voltaram muitas vezes.
Concluo, então, que minha morte é orgástica! Nem depois de corpo morto deixo de saciar-me! Enche a minha taça e me acende um charuto...
Prosseguindo com os destinos dos encontros...
A felicidade amorosa dos dois amantes era clandestina. Estava presente, mas não poderia ser desvelada para não ser fulminada. Ela deveria ser guardada e não comunicada ao mais que não aguentassem. Quando uma pessoa demonstra o seu sentimento para outra, acontece o inevitável: a desestruturalização. Por isso, deve-se calar a intensidade intrínseca para se continuar estruturalizado. Por não conseguirem esconder o sentimento mútuo, foram desequilibrados. Os Costas e a tribo, ambas as partes, advertiram os constantes encontros que os amantes mantinham. 

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