Minha
vida tomou outro rumo, mudou completamente, logo, meus negócios também. Ventos
deveriam levar-me para algum outro destino. Não contrabandeava e advogava como
dantes. Hermengarda foi quem assumiu tudo sozinha. Deus a tenha num bom lugar.
Infelizmente seria mais uma a me abandonar... e pior, por causa de mim mesmo.
Senti-me
muito solitário. Hermengarda, aquela doce ladra, mesmo com a idade em suas
costas, mantinha-se junto a mim e dos negócios. Não aguentava mais minha
mesquinha vida burguesa e de frequentar os mais diversos bordéis atrás,
totalmente bêbado, das mais diversas meretrizes possíveis. Estava cansado disso
tudo quando uma luz me alcançou. Absorto em alguns pensamentos, após as
afetivas perdas humanas, e a me entregar mais ainda à bebida, tive uma
formidável ideia. Contratei alguns homens para que no porão de minha casa construíssem
um discretíssimo recinto para jogatinas e encontros. Pensei eu: por que não ter
o meu próprio salão de saraus e meu “inferninho” para em vez de frequentar o de
outros, isso renderia muito mais ao meu bolso.
E
assim, pois Deus e São Francisco escutaram as minhas preces, tudo aconteceu e
durou algum tempo.
Eu
vivi na antiga rua da lama, que hoje, na Bahia, é a rua, se não me encontro
equivocado, chamada de Camucan, em Nazaré das Farinhas, lugar de muita miséria.
Muitas mulheres de lá com suas crianças cadavéricas, mas com barrigas
gigantescas, misturavam areia fina à farinha para render e alimentá-las. No
final dessa rua tinha a Igreja de Bom Jesus. Minha casa era de altos e baixos,
com um porão onde recebia toda a corte. Embaixo era uma casa de jogos, na qual
se encontrava tudo que se pode imaginar. Em cima, na minha casa realizava
saraus e mais saraus, enquanto aquelas mulheres podres, porcas e imundas da
corte, que nem gostavam de tomar banho, tinham constantemente seus maridos, que
muito pouco as procuravam, em meus porões para estar com outras mulheres, com
outros homens ou com pederastas. Como essa corte era fedida e imunda! Já viste
alguma figura em que um nobre estivesse sorrindo? Obviamente que não; acredito
que sejas sincero, pois a nobreza não tinha dente. Entrementes, em relação a
essa minha empreitada, não pense que era enorme, pois a minha cidade era pobre.
Recebia muita gente de fora.
Muitos
dos pederastas que se casavam só procuravam suas mulheres no dia do casamento,
porque eram obrigados. Assim que elas dissessem que estavam grávidas, eles não
as procuravam mais, porque a Santa Madre Igreja dizia que uma mulher grávida
não poderia, em hipótese alguma, manter nenhum ato sexual com seu respectivo
marido. Logo, ela poderia saciar-se com quem não fosse seu marido, livrando-o
da obrigação de ser homem para uma mulher. Quando ela, muitas das vezes,
levantava-se da cama, do resguardo – se a criança concebida fosse homem,
ficaria quarenta dias deitada; se fosse mulher, permaneceria trinta dias -; já
se encontrava grávida, pois mais uma vez tinha sido possuída de uma maneira
grossa, estúpida, violenta, imoral, indecente, sem ter o mínimo direito de
suspirar. Muitos daqueles porcos só sabiam desabotoar suas braguilhas que eram
um pedaço de pano que tombava para frente. Eles as penetravam praticamente
tendo orgasmo. Após, largavam-nas. Percebe, caríssimo... aquelas mulheres se
encontravam ali deitadas como um balde de excremento esperando ser usado, e nem
banho esses porcos tomavam, mas era para os porões que eles iam. Os que
realmente eram homens procuravam as negras ou até as brancas que eram da “minha
propriedade”, os outros, os pederastas, procuravam os homens para se realizarem
dominando-os ou sendo dominados sexualmente.
Andei
muito pelo mundo. Estudei muito também sobre culturas. Descobri sobre casos de
homossexualismo como prática normal de uma sociedade. Ou como doença mental. Li
que, por exemplo, na Grécia antiga isso era totalmente comum. Quando os homens
iam para guerra, não levavam suas mulheres. Logo, como esses homens se
serviriam sexualmente durante tanto tempo longe? Aquiles, Pátroclo, Alexandre,
o grande. Esses grandes e viris guerreiros serviam de si mesmos ou de rapazes
que tinham seus escrotos retirados para servirem sexualmente nas longas
viagens. Agora, esse conceito não deve ser concebido à luz do pensamento atual
ou cristão. Não são os homossexuais que conheci em vida. Nesse terra vi
muita covardia, embora não pudesse fazer nada para ceifá-la. O negro escravo,
por volta de seus quatorze anos ou quando atingia a maior idade, tinha sua
bunda exposta numa mesa para que tirassem-na a virgindade. Os jovens filhos dos
donos da fazenda enrabavam-nos que eram presos para isso. Negras também eram
oferecidas para outros com esse fim. Se possuísse feições bonitas, se fosse
esguia, era estuprada como direito. Algumas eram até mutiladas ou assassinadas
por causarem inveja a mulheres brancas. O europeu adorava isso, a violência e a
promiscuidade. Não participei dessa
podridão. Os negros que deitavam com os brancos em meus porões eram
homossexuais, sentiam atração física e estética por outro ser do mesmo sexo. Mas
se deitavam para sobreviver, ter principalmente o que comer. No meu tempo e no
meu espaço, homem que tem prazer sexual com outro homem não é homem; é sodomia,
é patologia. E quantos grandes homens foram mulheres!
Todas
as mulheres de baixa meretriz e pederastas que pediram minha ajuda, eu, João
Paulo da Costa, os acolhi. E foi uma mulher nobre que acreditou que me faria de
bobo. Idiota é aquele que pensa tudo ser muito fácil.
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